quinta-feira, 11 de julho de 2013

Morar Fora

   Bonsoir! Boa noite! Tá rolando na Caixa Cultural do Rio de Janeiro uma exposição que fala sobre pessoas que adotam outro país para morar. Vou confessar que os textos da exposição me tocaram, então os fotografei para guardá-los e reproduzí-los aqui.

"Viagem

É o momento de se conciliar com o desprendimento do lugar que se ocupa e ambicionar, desejar um recomeço, para que no fim seja revelado um novo território, cheio de dúvidas e incertezas, mas também repleto de anseios e expectativas. A viagem nem sempre é um momento feliz, especialmente diante de uma circunstância em que o retorno não está programado, pois envolve o afastamento da origem, da casa, ou do lugar em que se vive, o espaço incondicional para a construção da própria identidade. A viagem é o momento da mobilidade, do deslocamento, da despedida, do devaneio e da especulação de novos tempos e lugares.(...) Há nessas obras um sentimento que se associa ao impulso de se lançar no mundo. Elas se situam entre a angústia com o embate com o desconhecido e o desejo pelo mundo. Em algumas paira uma clara atmosfera de solidão e afastamento, como se ficasse cada vez mais evidente o distanciamento entre o sujeito e o lugar que ocupava. Em outras, há uma fina e delicada aparição da imagem de uma fenda ou passagem, como se algo estivesse convidando nosso olhar a ocupar ou desejar outro lugar.(...)"

Minha pátria amada e minha pátria escolhida
   "Encontro

   Digamos que o encontro não é uma chegada, é antes um ponto de partida para outra (con)vivência, o início de uma nova história em que também nos descobrimos e nos reconhecemos em uma relação; uma dicotomia profunda de estranheza e brilho; a ação inaugural de nós no outro, e dele em nós. O recomeço noutro lugar é sempre feito de expectativa falhada e deslumbramento, de feliz encontro de iguais e desilusão; de um aprendizado incerto e difícil, empírico, saído do desbravamento (des)iludido de um enorme desconhecido.
   O estrangeiro que vai para ficar integra nesse movimento duas oposições fundamentais: o firme desejo de deixar de o ser, a assumida vontade de se transformar em habitante desse lugar escolhido, de alguma forma rejeitando a sua própria origem/natureza/condição; e também a pretensão, fortemente implícita, de encontrar nesse estanho além as possibilidades e oportunidades que lhe permitam, por fim, desenvolver-se, crescer, afirmar-se, sempre em concordância de identificação com esse grande não conhecido. 
   O resultado dessas duas motivações desruptivas - rejeição de si próprio, de seu passado, do conhecido e projeção de um outro, de um futuro, do desconhecido - na realidade, na sua existência, no porvir, são na prática sempre incertos e imprevisíveis, muitas vezes dolorosos e incontroláveis. E a consciência clara desse crucial deslocamento, é assim, neste inicial momento de um espraiado encontro, pela primeira vez pressentida e manifestada.
   Encontramos aqui, então, algumas manifestações prováveis da vivência primeira, pragmática e psicológica com o novo, o diferente: o caminhar de fora para um lugar por descobrir; a planta universal de um espaço por habitar, pontuada de referências afetivas e imaginadas; a porta/passagem de funcionamento distorcido e complicado; a comunicação enquanto exercício platônico e hermético; o abismo burocrático e identitário da integração legitimada nesse outro coletivo social.
   Assim, nas malhas movediças e apertadas do primeiro encontro, entrechocam-se claramente os obstáculos e os objetivos, os corpos sonhados e as ruas desertas, a vontade de união e a parca linguagem, os costumes que somos e o que não entendemos.
   Mas nesse momento mais que límpido da vida - no reinício que é a chegada - espreitam-nos também todos os atos plenos, todas as grandes etapas, todas as emoções e vitórias, os novos e diferentes hábitos que o futuro bem esconde ainda, em parcimônia."

" Desterro

Absorvido em uma atmosfera de solidão, desamparo e enfrentamento com uma nova realidade que só faz presente, muitas vezes pela sua incompreensão do outro, o desterrado tem a falta como parte de sua alma. Vive no limiar: entre tempos e lugares que nem sempre se conectam; entre a saudade da terra que deixou e o novo lugar que proclama como casa. Precisa rapidamente absorver uma nova cultura, empregar um novo ritmo para sua vida, quebrar certa normatização ou, então, adaptar-se à outra. Percebe o quão frágil é seu entorno, quão frágeis são as expectativas que cria frente ao desconhecido. Lida com a hostilidade e o afastamento, mas também com o devir, o desejo libertário do acontecimento que se faz constantemente. Parafraseando Deleuze e deslocando seu pensamento para a experiência do desterro, o acontecimento é justamente o que acaba de acontecer e o que ainda vai acontecer, mas nunca o que se passa. Esta experiência está sempre por se fazer, um eterno descobrir de si próprio por meio do confronto - triste ou jocoso - com o desconhecido, ou pela identificação, que se faz pouco a pouco, daquele lugar como morada. O desterrado vive sua irrecorrível ambiguidade de viver entre dois lugares, em um estado permanente de incompletude cultural, política e sentimental. (...) Citando Stuart Hall, a chamada "crise de identidade" é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que desloca as estruturas das sociedades modernas e abala os quadros de referência que costumavam dar aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. Segundo Hall "[...] o sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado, composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas [...]"

   Então, gostaram dos textos? Longos, né? Mas, quem adotou outro país para viver vai entender e sentir na pele o que está escrito. Conheço outro sobre morar fora, mas como o post já está longo, publico alguma outra vez. Bom, como música do dia escolho Ma France, de Chahla, tunísia que imigrou para a França, e faz aqui uma declaração de amor ao seu país de adoção. Bonito, não? Temos que ser gratos à terra que nos adota.

3 comentários:

  1. Eu ainda não passei por essa experiência, mas deve ser única!!! A sua vez está chegando né?! Mais uma vez! Fotografe tudo por lá e coloca aqui pra gente ver! Adoro ver fotos de lugares novos, ainda mais lugares que não são tão turísticos! Beijão Di!

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    1. Ai, Thamyrez, já te falei que você deu mole! Quando tinha que ir não foi! Agora é mais difícil! Mas, se tiver oportunidade, tenta, é uma experiência muito valiosa! Sim, faltam duas semanas e meia...vou postar aqui sim, e no facebook...adoro conhecer lugares não-turísticos! Deles já tenho muitas fotos! Dos turísticos também, né? rs Lembro quando eu tava na Itália e um cara falou "isso é um banco", eu tava fotografando a sede de um banco que achei bonita...rs fotografo tudo! Lá é tranquilo! Beijão!

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    2. Thamyrez, te respondi aqui, mas meu comentário sumiu! :/
      Pode deixar que vou postar fotos aqui e no facebook!
      Beijão!

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